Depois de muito defender a vida de freelancer prestando serviço, venho aqui confessar que estou mudando.
Trabalhei de freelancer e prestando serviço nos últimos anos e tive uma vida muito confortável e agradável. Tive uma boa estabilidade financeira na maior parte do tempo e teria demandas para viver nesse modelo para o resto da vida se quisesse.
Defendi e em alguns momentos até mesmo vendi a ideia do estilo de vida “freelancer” para uma série de pessoas que estavam empregados e ao mesmo tempo não estavam tão empolgados com seu estilo de vida e qualidade no trabalho ou mesmo a carreira.
O tópico é: trabalhar de freelancer ou seja prestando serviço vs construir um produto.
Vantagens de ser freelancer (prestar serviço)
As vantagens estão muito ligadas ao fator home office também. No entanto são mais ou menos assim:
Você vai trabalhar em coisas diferentes quase que sempre. Muito difícil o cara ser freelancer de um só cliente então isso lhe trará diversidade no trabalho, contato com diversas pessoas, interações com outras tecnologias.
Eu mesmo sempre tinha minha meta pessoal de 2 projetos diferentes por dia. Um de manhã e um a tarde. Isso fazia com que tivesse sempre coisas novas ou mesmo alternasse o conteúdo pois sentia minha produtividade decair por trabalhar apenas na mesma coisa.
Você tem mais horários livres do que imagina
Você não precisa levantar todas as manhãs no mesmo horário. Sim, alguns dias você não terá tanta demanda ou pode se organizar para simplesmente dormir até meio dia. Gosta de fazer isso? Eu já me planejei e fiz algumas boas dormidas até meio dia no meio da semana. Quando você tem agenda livre pode investir seu tempo da maneira que mais gostar.
Eu particularmente investi a maior parte do tempo livre estudando e me aperfeiçoando na própria tecnologia. Gosto muito de explorar fazendo algo com a tecnologia então fiz vários projetos sem fins lucrativos pois não tinha tantos freelas então essa era uma forma legal de aprender e explorar. Por exemplo:
Fiz o Camera Overlay em conjunto com o Marlon e fizemos nas horas livres de freelas que sobrava. Neste projeto aprendemos muito sobre Android e Processamento de Imagens.
Trabalhei no Bliss e no Pixel com o intuito de conhecer e dominar o Meteor JS. Também fiz o mandala.ideia.me para aprender sobre Angular JS e Cordova para entender os aplicativos híbridos.
Estes exemplos serviram de cases para iniciar trabalhos profissionais com ferramentas que ainda não dominava totalmente. Para entender as ferramentas é preciso dominar. Se você quer ser freelancer, é melhor pegar em tecnologias que domina, senão teu custo de aprendizado será muito alto e como é freelancer vai ser mais difícil de fechar bons negócios. Então vai precisar fornecer uma mão de obra de qualidade por um preço acessível.
Usufruir do seu lar
Se você for um freelancer em algum momento estará trabalhando do maravilhoso conforto do seu lar. Talvez opte por trabalhar em um café ou coworking, mas em geral você fará uso fruto da sua casa e todas as coisas que só você têm lá e tanto ama do mundo capitalista.
Sim, você poupará o aluguel de um outro espaço aproveitando e otimizando vários outros custos que possívelmente terá em dobro como internet, água, luz, comida, transporte, além do próprio custo do tempo no trânsito.
Eu sempre adorei o homeoffice e achei esta uma forma linda de se encarar a vida. Das coisas que sou mais motivado a ficar em casa são:
- Ficar solo em silêncio: concentração maravilhosa
- Minha cafeteira e torradeira: self-chef
- Trabalhar com roupas confortáveis
- Ver o crescimento do seu filho - acompanhei até ele ir na creche com 2 anos
Desvantagens do serviço
Nem tudo são flores e agora você também precisa pensar em tantas fortes emoções que terás como freelancer.
Imagina que você é um “exército de um homem só” trabalhando duro para realizar todo e qualquer tipo de tarefa que a vida de freelancer lhe propõe e agora você não pode mais falar assim “mas quem é responsável por….” pois a resposta é você! Então, na carreira de freelancer você precisa tomar a frente para tudo e quando não consegue corresponder em uma determinada situação do projeto é bom ter bons amigos e boas fontes de relacionamentos profissionais para conseguir pessoas para te ajudar a resolver ou contratar.
Você não recebe quando fica doente
Sim, você não irá receber se tirar um dia de folga quando sua cabeça estiver explodindo ou ficar doente. Dessa forma, se você começar a amar mais sua vida de freelancer que sua própria saúde, possívelmente terá que cuidar deste aspecto com mais atenção. Investir em saúde é primordial para trabalhar em casa.
Quando você trabalha em uma empresa geralmente existem leis que te protegem e que você pode apresentar um atestado médico, porém quando você está prestando serviços de freelancer, dificilmente o cliente topará em lhe ajudar a cobrir qualquer tipo de custo que não seja relacionado ao projeto em questão.
Você não recebe se não entregar
Dependendo se você trabalha por projeto fechado e não conseguiu entregar, talvez fique sem receber. Então é importante estabelecer bons critérios de como saber o que significa “feito”.
Eu me ferrei logo no primeiro freelancer que peguei e não entreguei. Perdi o valor e desisti quando não consegui entregar e passei mais de 150% do tempo estimado. Desta forma, para me proteger deste tipo de caso, comecei a trabalhar por hora e não por resultado pois como freelancer o cliente as vezes quer apenas uma “alteraçãozinha” e o tempo investido é muito maior que o orçamento estimado.
Você precisa ter trasparência para fechar bons negócios e manter bons clientes. Mesmo como freelancer você pode desenvolver vários projetos com sucesso para um mesmo cliente.
Resumindo: o seu produto é você
Se você falhar ou quebrar, ninguém vai te comprar.
Precisa funcionar bem, ser bom e estar sempre de prontidão.
E aí “ter um produto” ou “prestar um serviço”?
Agora damos espaço a dualidade entre o ter um produto vs o prestar um serviço. O serviço basicamente depende tempo, recursos humanos e ferramentas / matéria prima adequada.
O produto, trata-se de uma engenhoca que resolve um determinado problema de forma simples, você compra e você mesmo interage com ele para resolver teu problema. No produto, geralmente lendo o manual ou a intuição você resolve e aprende.
No serviço você depende de alguém que sabe para resolver. Essa pessoa usa ferramentas e conhecimentos específicos para resolver o teu problema.
Possívelmente qualquer ser humano consegue recriar o produto ou aprender a executar o serviço, mas por falta de tempo, dinheiro ou habilidade passamos a pagar para alguém fazer essas tarefas.
Então, vendo o cenário acima, decidimos por uma carreira, optamos por um destes mercados: o produto ou serviço.
Eu até hoje defendi com unhas e dentes o serviço porém depois que entrei na Resultados Digitais e conheci o RDStation estou começando a olhar o produto com outros olhos. Estou percebendo que ter um produto interessante e sustentável é maravilhoso e pode ser muito escalável, ou seja, você pode vender ele para muitas outras pessoas e atender um grande público.
Vantagens de ter um produto
O produto pode ser replicado. Ele pode resolver o problema de mais de uma pessoa sem necessitar de mais pessoas. Quando você está escolhendo por ter um produto, sabe que não está fazendo para apenas um cliente. Sempre falo que na invent.to nós não desenvolvemos produtos, apenas protótipos. Produto é um estado da arte que precisa de uma equipe por trás dele para manter ele no ar. Como só prestamos serviço de pesquisa e desenvolvimento, sempre enfatizamos que estamos entregando o protótipo e não o produto e que o produto é algo não distante mas precisa de uma atenção muito maior para poder receber os novos usuários de forma escalável.
Vou dar mais um exemplo atual do RDStation. Esses dias o @andrehjr reportou o novo recorde de 2 milhões de emails enviados em um dia. O @ericsantos respondeu o email contando a emoção que eles tiveram quando estavam enviando 500 mil por mês, e agora já passava de 2 milhões por dia!
Então, para você sair de 500 mil por mês para 2 milhões por dia, o software teve que melhorar muito e muitos ajustes e melhorias foram feitos para atingir mais usuários. Dessa forma é imprescindível que para um software escalar ele precisa de uma super equipe de pessoas por trás. Detalhe é que enviar email é apenas uma funcionalidade e o produto em si encara novos gargalos e desafios todos os dias conforme vai crescendo.
Não é você que está resolvendo o problema de alguém
Trabalhando na prestação de serviço você está trabalhando em problemas específicos ou agregando valor a algo já existente. Quando você cria seu produto, não é você que está ajudando alguém mas seu produto, e isso permite que as dependências saiam das suas costas e passam a ser no produto e o time do produto. O produto não precisa dormir ou mesmo tirar férias, mas você e seu time sim.
Alguém está querendo pagar pelo seu produto
Quando você faz têm um produto bom que resolve algo ou ajuda de verdade, o próprio produto se paga, o próprio produto se vende.
Se ele cumpre um determinado propósito e faz com excelência, existe uma chance muito grande de mais e mais pessoas chegarem até ele.
Escalabilidade
Sim, diferente de horas humanas que são alocadas em buffers de 44 horas semanais, um produto pode ser onipresente e ser vendido em mais de um lugar ao mesmo tempo.
Pense que se você tiver uma maneira de distribuir de forma eficiente seu produto, pode aumentar a capacidade de produção e venda. Em software em clouds simplesmente temos que contar com outros serviços que também funcionam de forma escalável. Isso quer dizer que é possível contar com serviços de terceiros que permitam pular de um envio de 500k emails mês para 2 milhões como citei acima. Hoje é possível usar serviços de terceiros que se responsabilizam pela escalabilidade de uma boa parte da arquitetura. Veja alguns dos tipos de serviços disponíveis e extremamente úteis para Startups de TI poder crescer:
- PAAS: Platform as a service permite você consumir um computador com sistema operacional e tudo mais, instalar seu app e seus serviços, workers e tudo mais
- SAAS: Software as a service permite você consumir outros aplicativos como serviço e dividir as responsabilidades do negócio.
Isso significa que você vai dividir uma fatia do seu bolo com serviços de terceiros que pretendem fazer a tarefa da forma mais bem feita possível.
Desvantagens de ter um produto
Parece fácil mas não é. Um produto é um navio sendo construído em alto mar. Depois que ele começa a andar não pode mais parar. A construção e direção de um produto podem levar ele para diversos rumos e o mais importante é saber para onde ir. Os grandes players como Google e Microsoft têm muitos projetos descontinuados pois são projetos que precisam ser abandonados.
Dessa forma, é possível ter um produto bom e estragar se ele não estiver uma direção boa, assim como é possível ter um produto ruim e engajar.
Vou citar um caso que cobre os dois aspectos que citei acima: o Skype era muito bom pois era um aplicativo de fazer ligações, mas então a Microsoft comprou e quis saber de acabar com o Microsoft Messenger que era um produto que ainda tinha muitos usuários engajados mas sua era tinha acabado. Eu senti que tudo começou a travar no skype depois que foram comprados, então surgiu o Google Hangouts em grande estilo.
Lendo o reescrevendo o mesmo livro todo dia
Imagina que um software é um código fonte que nada mais é que palavras ordenadas e organizadas de forma tão coerente que até um computador consegue entender. Então um programa de computador é isso, um livro lido apenas por computadores e escrito por pessoas conhecidas como “programadores”.
Agora imagina que este seu livro vai crescendo e vai ficando uma história compriiiida e cheia de pequenos detalhes. E quando você vê está trabalhando a anos reescrevendo as mesmas linhas do mesmo livro.
Sabemos que o serviço é exatamente isso. Executar uma atividade. Existem muitas profissões/serviços que são ingratos neste aspecto e a pessoa executa exatamente a mesma atividade, em muitos casos até mesmo no “piloto automático” sem exigir mais esforço intelectual para desempenhar a função.
Tudo depende do estilo da pessoa, tem pessoas que não gostam de desafios, ou se sentir desafiados, mas a maioria das pessoas que conheci da tecnologia se motiva com o desafio, e o desafio é o sentido pleno da diversidade, no sentido que todos querem trabalhar em mais de uma coisa, conhecer novas tecnologias, aprender novas ferramentas e forma de pensar sobre a resolução dos problemas.
Concorrência esmagadora
Esse é um lado cruel que está ascendendo nas empresas de tecnologia. As pequenas startups criam seus produtos e de repente um dos grandes players também entra no mercado em alto estilo e performance para suprir aquele mercado de forma escalável.
Isso acontece com uma série de produtos que vão se difundindo e os grandões querem comer uma fatia do mercado. Vimos isso com o mercado de smartphones e agora estamos vendo a mesma guerra começar em torno de produtos e serviços da internet das coisas.
Você pode até criar um app massa que deixa seu usuário maravilhado. E de repente descobrir que o google têm um produto ou serviço que já faz isso além de várias outras coisas.
Seu objetivo com o produto
Se o objetivo com o produto não estiver alinhado com a expectativa dos usuários, possívelmente pode perder o engajamento dos clientes.
Outro caso é não ter objetivo e acabar criando funcionalidades para alguns clientes e tornar o software o famoso bixo de 7 cabeças que quer abraçar o mundo.
Ter um produto é escalável
Vamos pegar o exemplo do automóvel. A industria automobilistica é um exemplo de produção de alta escalabilidade. Já o sistema de trânsito não consegue acompanhar o crescimento do consumo de carros.
Para comprar um carro você vai ter que escolher por uma série de detalhes que seriam como os “plugins” ou “addons” para superar os limites do conforto do usuário.
A plataforma da indústria do carro foi adaptada para fazer isso de uma forma fácil e com uma divisão de responsabilidades interessante para permitir que a indústria fizesse todos os modelos de forma sequêncial e pudessem produzir de milhares a milhões de exemplares iguais e ter muita gente satisfeita com a aquisição.
Sempre lembro das palavras do Leonardo Da Vinci:
Simplicidade é o último grau de sofisticação.
Dessa forma para ter um produto escalável tem que resolver o problema de muita gente de forma muito simples. Aprendo cada dia mais sobre a evolução do UX sendo usuário dos apps mobile do dia a dia. Vejo a simplicidade tomando conta da forma de interação dos aplicativos e software.
Ser um serviço baseado em humanos não é escalável
Lembro-me quando estava saindo da Leosoft e começando minha vida de freelancer. Sentamos em um domingo tomar uma cerveja, eu e o @leandroh e o Leonir de Campos CEO da Leosoft. E o Léo falou assim: “Você tem que criar uma máquina que trabalhe por você. Você não vai conseguir trabalhar mais que 8 ou 10 horas por dia então seus ganhos se limitam as suas horas de trabalho por dia.”
Humanos são baseados em cultura
O produto também demanda humamos continuamente para que não parem de gerar valor então cada vez mais precisa de mais pessoas trabalhando e aperfeiçoando e fazendo o negócio crescer.
Para inserir novas pessoas dentro do processo demanda tempo, dinheiro, espaço físico e interfere diretamente na qualidade e saúde do negócio.
No entanto existem N maneiras de se fazer as coisas e encarar os problemas e o comportamento dos indivíduos afeta o meio e os outros indivíduos então se alguém fala palavrão, tende aos outros falarem palavrões. A linguagem e a expressão corporal, inteligência emocional influência diretamente na forma de trabalhar e resolver os problemas inesperados do dia a dia, em resultado a isso temos a energia do espaço: se é um lugar carregado ou com pessoas felizes e trabalhando com gosto nas suas atividades.
Cultura é escalável
A cultura no trabalho têm muito a ver com a experiência e comportamento do grupo em questão. A pessoa que entra em contato com um grupo de outra cultura vai ser totalmente influenciada e no caso de trabalho ela mesmo vai optar por viver ou não naquele estilo. Se ela não se adaptar a cultura ela sai.
Gostei bastante deste aspecto na RD, pois eles têm uma cultura forte e aberta e isso é a chave para o crescimento rápido em número de pessoas.
Neste aspecto entendo que para ter um produto é preciso ter uma cultura interessante. Para engajar pessoas na construção do seu produto é preciso ter uma responsabilidade interessante, que faça com que a pessoa esteja alinhado com novos desafios todos os dias no trabalho. Que a pessoa tenha um aprendizado que se supere a cada dia.
Isso vai gerar valor para pessoa estar ali, e nada mais interessante e desafiador que um crescimento rápido e contínuo para trazer desafios quentes e responsabilidades cada vez maiores.